Houve em tempos alguém
Alto de cabelo escuro
Chamado Gracco, um homem
Que seguia Epicúro
Diziam uns que tinha matado o irmão
Escorraçavam-no e chamavam-lhe cão
Mas Gracco sabia bem que jamais
Mataria homens ou animais
Era expulso de cada cidade
Espancavam, maltratavam
E ele sempre com a mesma serenidade
Aceitava os castigos que lhe davam
Quando, por vezes, o encarceravam
E ao ritmo dum chicote o interrogavam
"Quem és? donde vens? porque és tão imundo?"
E Gracco respondia "sou Gracco e minha casa é o mundo"
E apesar dos castigos imensos
De ser açoitado nas ágoras
De ser lançado nos bosques densos
Gracco era um homem sem mágoas
Nunca se tinha apaixonado
Nunca a prazeres se tinha dado
Rejeitara todas as humanas paixões
E nunca mostrava emoções
Pelas cidades onde passava
Dormia nas praças e mercados
Do nascer ao pôr-do-sol ensinava
A sua filosofia aos mais desocupados
Um menino sentou-se aos seus pés
E perguntou "tu quem és?"
E Gracco respondeu sereno e profundo
"Sou o homem mais rico do mundo"
E o pequeno menino disse
"Rico é o Rei de Roma
Rico de verdade que eu visse
Que para si toda a riqueza toma"
E Gracco respondeu com firmeza
"A sabedoria é a maior riqueza
O Rei só vive num palácio dourado
Mas olha para mim! Posso viver em qualquer lado!"
Ao que o pequeno concluiu
"Então ser rico é saber"
E na sua mente diluiu
O que acabara de aprender
"O ouro? podem-te roubar
As terras? podem-te conquistar
Mas a sabedoria jamais te vão tirar"
E olhando para o menino, Gracco diz
"Eu sei e sou feliz"
Mário Carreiro