Alto lá! Que aqui passais
Sem atentares nos demais
Quem vós sois?
E que quereis pois?
Somos as três Moiras
Castas, belas e loiras
Não questiono a castidade
Que é raro o desejo em vossa idade
Mas se algum dia vos houve beleza
Como vos vejo agora digo-vos que foi proeza
E do loiro cabelo entrançado
Vejo apenas um cinzento descuidado
Atentai antes no que vos diga
Pois já é grande a nossa fadiga
Corre pelas gentes o rumor
Que sereis cavaleiro de honor
Mas que cousa que por aí soa!
Confundis-me com outra pessoa
Sou apenas um peregrino galopante
Para suster o corcel mal tenho o bastante
Os rumores que oiço trá-los o vento
Dizem também que vosso será o real assento
Quem disse tal barbaridade?
Não acha decerto que seja verdade
Digo-lhe o que sei
E nada mais lhe direi
Juro-te por Deus
Que serão esses feitos teus
Primeiro te farão senhor
Dar-te-ão terras, honras e honor
Depois serás a sucessão
Do rei que tens agora a defensão
E serás um rei tão nobre
Que terás tudo o que o céu cobre
E o próprio céu será o teu sustento
Quando pela fama subires ao firmamento
Quem sois e como sabeis meu fado?
Acaso não sabeis que é pecado
Usar as artes de feitiçaria?
Atrevem-se a tamanha heresia?
Víeis que é verdade o que digo
Se não for, aceitamos o castigo
Ide agora! Podeis passar
Sei bem que quando aqui voltar
Já tereis o ouro e a coroa na cabeça
Se não, tereis nossas cabeças na travessa
Mário Carreiro
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