quinta-feira, 2 de abril de 2009

O frade

Passava eu na estrada de terra
Errando como quem na vida erra
Quando por artes de feiticeiro
Surgiu um frade detrás de um pinheiro
Segurando a rama de uma pereira
Cercou-me pela traseira
E com ares de santo sonso
Estridente gritou o frade mariconso:
"Domine, domine, quem est homine?"
Caro frei Joaquim
Olhe bem para mim
Acha que sei seu latim?
"Meum latinis mui facilis est"
Raios o partam sua peste!
"Oh domine, blasfemus liguarudus!"
Interessantes esses seus estudos
Arreliar o pobre andante
Que andar a pé já não o é bastante
"Pobretiam et ingratiam!"
Chega! Basta-me!
"Non levantatis vox
Per representatis divinus!
"
Para um bando de frades ladinos?!
Levanto pois a minha vox
Seja lá o que isso for
"Homine sine honor..."
Vá embora frei Joaquim
Não vá aqui perder o seu latim
"Malditis pobretiam
Hasta, me voy, me voy!
"
E assim o frade foi
Pegando no cajado
Enrolando o rol
No final até já falava espanhol
Continuei pela via incerta
Que quanto mais alarga

Mais me aperta...


Mário Carreiro