segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O sonho

Estava eu na tranquilidade
E calma de um sonho
Quanto a pensar em mim me ponho

E de repente sinto uma falta
Mas não sei do quê…
Que até o ar me falta
E o coração sobressalta
Mas não sei bem porquê…

Primeiro veio um ruído
Que se assemelhava a uma voz
E que se foi sumindo…
E quando já estava sumido
Senti uma dor, um sentido atroz

A voz voltou
E claramente a ouvi
Era uma voz forte mas calma
Uma voz feminina e serena
Que me aquecia o peito
E incendiava a alma

E a voz assim me dizia:
“Não deixarei que te roubem”
E disse também que tudo faria
Para me proteger dos males que me corrompem
Senti aquilo e senti-me bem
Senti uma paz, uma tranquilidade
Pois julgava eu também
Que tudo aquilo era verdade

Mas verdade não era
Pois que fosse pudera
E quando acordei desse sonho irreal
Senti de novo aquele frio infernal…



Mário Carreiro

domingo, 28 de dezembro de 2008

Acorda

Uma personagem desconhecida
Desta vida sem história
Um homem caminha, procurando
O quê?... não se sabe

Será que ele sabe seu caminho?
Será que ele só vê com os olhos?

Tranquilo, andando… de repente pára
Como se já não soubesse o seu rumo
De repente o mundo caiu-lhe em cima
Ele parou… olhou para cima boquiaberto e viu

A coisa mais linda que alguma vez
Os seus olhos tiveram a honra de deslumbrar
Seu rosto brilhava, reluzente e fascinante
Seus cabelos ao léu, dançando com o vento

Seu sorriso resplandecia
Seu olhar brilhante como duas estrelas

Olhou para mim e sorriu…
Meu coração bateu mais rápido como nunca

Nunca senti tamanha alegria
Meu corpo parecia uma pena voando
E dançando com o vento que me levava
Para longe, era tudo tão lindo e belo

De repente aquilo que era belo
Transformou-se num pesadelo
Ela… linda como só…
Tornou-se numa criatura horrenda e ensanguentada

Tudo o que era colorido desvanesceu
De súbito ouvi alguém a chamar
Um grito de desespero soltou-se da minha
Garganta em direcção ao vazio

Lutei para conseguir libertar-me
Daquele mundo sem cor,
Alegria e sorrisos,
Sem a imagem da bela dos meus sonhos

Gritei… acordei e percebi que tudo
Não passava de um sonho mau
E aprecebi-me de que tudo o que
Acabei de viver era o reflexo
Da minha mísera vida
Não so acordei desse pesadelo

Como também acodei para a vida…


Mídia

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Sentimento incerto

Que frio é este que sinto?
Este vazio que pressinto
Será aquilo novamente?
Mas assim tão de repente?!

Ainda há pouco me tinha livrado
E livre já me tinha julgado
Mas assim sem aviso de antemão
Me veio esta dor apertar o coração

Dúvidas na minha incerteza
Que não mais quero para mim a tristeza
Pois não quero que volte a acontecer
Aquilo que tanto me fez sofrer

Nem quero sequer que seja
Esse desespero que em mim sobeja
São dúvidas às quais não posso responder

Só espero que o tempo me faça entender...


Mário Carreiro

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

BOAS FESTAS!!!

O Clube do Gato Bebado gostaria de desejar a todos os nossos leitores e visitantes deste blog um Feliz Natal e Bom Ano Novo. Para todos vocês que tenham uma vida feliz, tudo de bom, que vossos sonhos se realizem e que continuem a nos acompanhar por mais anos vindouros.

Despeço-me então com um caloroso abraço de todos os membros do Clube para todos vocês. Até para o ano, até qualquer dia, até ao nosso regresso ; )

Feliz Natal e Mais um Ano Novo

Um ano passou
esta jovem conheci
mas nada mudou
desde aquele dia em que te vi

Será amor?
será afeição?
seja aquilo que for
põe doido o meu coração

Amar talvez seja muito forte
mas gostar diz pouco
adorar é certamente
diz este velho louco

Tu és unica
na minha vida
ninguém te pode levar
por isso não vás
para contigo estar

Nas férias irei te procurar
so para te ver
irei viajar
até meu corpo ceder

As saudades que vou sentir
fazem-me pensar
"Estarei eu a me iludir?
conseguirei lá chegar?"

Boas festas venho-te dar
que não te falte a diversão
e para o ano nos voltamos a encontrar
para te dar um grande abração
Nos meus braços te ter
até lágrimas vao cair
de tanto tempo sem te ver
as saudades fazem-se sentir

Meu corpo podia aqui falecer
mas novamente te vi
só nao consigo conter
aquilo que sito por ti.


Mário Ilhéu

sábado, 20 de dezembro de 2008

Nada me finda

Não sei se era noite ou madrugada,
Apenas sei que sonhava
Que me deixava ir pela alma, sozinho nessa estrada
Que é o sonho por onde vagueava.

Era uma paisagem normal
Não a detalhei bem com os meus olhos, mas sei que era apenas espectral.

Haviam correntes, inúmeras,
Das mais variadas cores.
Estavam unidas, bem seguras,
De um lado por um anel azul florescente,
Do outro pelas minhas mãos.

Cada uma tinha uma imagem
um significado,
Todas essas importantes, todas peças de quem sou
Reluzindo e glorificando aquele anel azulado
Símbolo da ‘’união de tudo’’,
tudo aquilo que eu sentia, via e não ia perder.

Aí, as minhas forças foram contestadas
Mas nada me faria largar as correntes.
Jamais seriam subjugadas

Senti algo pela primeira vez na vida,
Um medo, um receio, igualmente imponentes,
Sentimentos de perda que me envolviam como tentáculos
Semelhantes aos que faziam de tudo para quebrar aquela união.
A existência do meu ser.

Nada eu fazia para largar
Tudo o que mais queria era aguentar.
Senti que não ia ali ficar, não ia ceder.
As lágrimas já não eram meu dever de conter
Mas o meu desejo, o meu viver,
a união iria permanecer!

Não sei o que aconteceu a seguir,
Não sei a origem da escuridão
Nem se era sua intenção me suprimir ou não.
Apenas sei que desistiu e deixou-se ficar
Totalmente imóvel, a olhar-me.
As lágrimas em mim caíam descontroladamente.
Conseguia sentir o anel na minha mão.
Havia-se fundido com as correntes numa pequena, dourada e rejuvenescente,
Á qual me agarrava por qualquer razão.

Senti logo o meu peito apertado,
Dois braços enlaçavam-se com força em mim
Ao mesmo tempo que toda a minha saudade descaía sobre ela.

Não a tinha perdido, nem ma tinham tirado,
Tinha-a comigo e comigo iria ficar o tempo todo.

Quando, infelizmente, despertei
Deixei-me ficar a recordar e pensei:

‘’ Sei que não é a realidade,
Mas nunca chorei tanto como acabei de o fazer.
Sei por aquilo que lutei
Mas não vi o rosto dela.
A minha alma conhece-a sempre o fez, eu não.
Mas sentir pena disso não é razão.’’

‘’ Quanto àquela escuridão,
Não sei porque não sinto raiva dela
Nem sei porque desistiu.
Não sei a sua origem nem a sua intenção
Mas como ela me olhou e cedeu,
Faz-me pensar o quão minha ela até é
E o quanto faz parte de mim e de quem realmente sou.

Importante me é reconhece-lo. ‘’

‘’E agora sei o porquê da paisagem ser espectral, agora sim
Ela era tudo aquilo que não existe á volta de mim ‘’


Se for possível concluir,
Digo que não quero perder uma pessoa que não sei de quem se trata ainda.
Sei que para alem de tudo em mim, existe também escuridão e isso faz-me sorrir.
Foi, e é isto que um sonho me faz ver, aquilo que sou e que nada me finda.


Diogo Ramos

domingo, 14 de dezembro de 2008

Voz da serpente/Chamariz da Inocência (Parte I)

Percorre o seu caminho
E rasteja para longe do seu lençol
Umas vezes para não ficar sozinha
Outras só para se expor ao sol

Sombras são aquelas que ainda a contêm
Alojada no mundo que odeia
Por entre os cantos que a mantêm
Á espera em silencio, ignorando tudo o que a rodeia

Que veneno lhe terá penetrado?
Que maldição terá sibilado?

O seu corpo contraído
O seu rosto imparcial e inocente
Não revelam mais que uma solidão nele incidido
E que nada em redor vê ou sente

Porque está uma rapariga assim só?
Ninguém se preocupa com ela, ninguém tem dó?

Há um segredo
há uma vontade que lidera que não foi eleita
Uma que impõe o comando e o medo
Que a qualquer amizade deixa desfeita

Todos cedem á sua inocência, todos tentam
A sua protectora é grande mas nas sombras não a vêm
Mesmo perto as almas maldosas disfarçam e inventam
Tudo para conseguir o olhar inocente da jovem
Mas assim que lhe tocam, já não se movem
O medo envenena, os dentes desfazem, e aí morrem


Está sozinha porque quer e porque ignora qualquer emoção?
Ou porque tem medo, e com ela não existe qualquer protecção?


Diogo Ramos

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Placidez

Aceitar assim a dor
com tanta placidez!
será isto estupidez?

Estarei eu a tornar-me
numa besta já sem cura!
será isto uma loucura?

Levar assim a vida
com a leveza com que encerro!
será isto um grande erro?

O meu corpo congelado
e minha mente a divagar!
onde irei eu parar?

Remar contra a maré
pegar o touro pelo corno!
terá isto retorno?

Julgo saber o que digo
mas não sei o que penso
terá isto algum senso?...

Com desdém por qualquer sentimento
torno meu olhar para os céus
e vejo as estrelas no firmamento
julgando-me forte como um deus

Olho então para os mortais humanos
deleitados em rituais profanos
de paixão e amor
de ódio e dor
uma orgia de sentimentos
que me faz vomitar os alimentos

Nunca eu tinha pensado
que pensando já me ter encontrado
encontro-me ainda mais perdido
fará isto algum sentido?...


Mário Carreiro

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Memórias de um Morto

Ainda me lembro bem
de quando eu era vivo
foi como se fosse ontem
que da vida fui cativo
quem disse que é mau morrer?
isto aqui é que é viver!

E como eu abominava a morte!
a ideia de que a minha vida acabásse
mas pelos fados quis a sorte
que a minha vida terminásse
e quem disse que é mau morrer?
isto aqui é que é viver!

E os campos verdes debaixo do sol de Verão
comtemplá-los era tão agradável
mas para que serve isso então?
para tornar a tristeza suportável?
mas quem disse que é mau morrer?
isto aqui é que é viver!

Chorem por mim, respeitem-me agora
digam que sou o maior heroi dos que ja viveram
o respeito tem-se pelos que vivem
e não pelos que ja morreram
mas porque é que é mau morrer?
se isto aqui é que é viver!

"O melhor da vida é o amor"
lembro-me eu de ouvir dizer
tamanha mentira eu nunca ouvi
pois em vida o amor só me fez sofrer
e ainda dizem que é mau morrer!
isto aqui é que é viver!

Termino desejando aos vivos infelizes
que depressa morram e sejam felizes
porque eu não me arrependo do que fiz
estou morto e sou feliz!


Mário Carreiro

A Ceifeira

Em sonhos eu vi
em visões ela veio
e eu vi-a
vi toda a sua beleza
uma beleza tenebrosa
que me faz sentir mórbido
de apenas achas belo
tão temido ser


Ahh... a sua lúcida pele...
branca como os nevões
trazendo á memória
as nórdicas colinas
no pico do inverno
uma pele tão suave
mas tão fria e seca


Ahh... então e seus lábios...
húmidos e carnudos
escorrendo ainda fios de sangue
recordações do seu ultimo amor
e tão negros eram seus lábios...
tão negros que neles fixaram
de instante o meu olhar
como que sugando a minha visão


Pergunta-me então pelos seus olhos
e sobre eles digo sem hesitar
que nunca na vida
vi tão belo olhar
um olhar frio
inexpressivo e vazio
um olhar tenebroso
que me faz tremer
mas um olhar belo
que me faz amar


E sua silhueta
elegante e extasiante
suas fecundas curvas
de que Vénus se inveja


E por onde passa
o espaço e o tempo dilata
esta Dama não tem residência
tem seu ardente carro
pois está sempre em movimento
porque há sempre vidas
para serem tomadas como seu alimento


Vem a mim que a vida é incerta
traz teu luto, tua roupa funesta
traz também a tua foice
e de um golpe certeiro, ceifa minha vida
como a ceifeira que ceifa o trigo


Mário Carreiro

domingo, 7 de dezembro de 2008

Crónicas de Cephíro - Saudade Inextinguível

Perdeu-a á muito

O resfriar da noite congelou o seu coração
Naquela maldita Era
Trouxe transtorno e um canto para a sua perdição
Assim como a sua própria morte o fizera
- Ainda me custa olhar o lençol negro….
Penso nela, vejo-a, e sei o quão duro isto é para mim
Ganhei-a quando nasci, tão feliz que era….ainda me lembro
Sobre o monte outrora esverdeado
A luz apoderou-se da sua dor
Luz da lua que lhe conferia um tom esbranquiçado
Como se os sentimentos já não lhe conferissem a sua cor
- Não o recordes dessa forma não vale a pena Naíre!
- Quero ser forte mas só me vejo sozinha e abandonada
- Ela nunca te deixou; ultrapassa esse dilema, não te deixes cair
- Minha vontade não é outra, mas se o fizer fico sem nada

Perdeu-a á muito

- Fez-me promessas mas nunca prometeu ficar comigo
Dói-me entende-lo
- Aceita o destino…toma o próximo passo e eu vou contigo
- Isto eu jamais irei aceitar, prefiro recordar e combate-lo
Sem saber o que dizer
Já nada podia tentar
Naíre era decidida e era livre de encarar o mundo a seu entender
Quanto a si, aquela nunca foi uma batalha que devesse travar
- A noite esfria-se voltemos para casa……
- Vai tu! Eu quero ficar ficar ao pé dela
- Eu há muito que superei a minha dor mas, quanto a ti, não sei mais que faça
- Não te preocupes, as minhas noites são estas e as minhas saudades a minha cela
Os passos que a sua amiga davam
Pareciam coordenados e normais
Soavam simultaneamente ás suas lágrimas caídas
Que não iriam parar, nunca, jamais

Havia tanto em que pensar
E ao mesmo tanto a esquecer
O passado é passado e nada o iria restaurar
Á medida que as forças realçavam o seu desvanecer
O seu olhar cerrava-se e deixava-se adormecer

Perdeu-a á muito, mas só queria que a sua mãe voltasse a viver


Diogo Ramos

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Pássaros de ferro

Os pássaros de ferro descolaram
para este voo se cuidaram
com suas garras armados
em bandos foram emparelhados
levantaram do lado da nascente
e tomaram o rumo do poente
em seu rosto um olhar rancoroso
em seu bico um ruído estrondoso
E sobre nossa cidade se lançaram
em queda se despenharam
nas ruas se viram clarões
o povo era consumido pelas explosões
e julgando-se em frutíferos sacrifícios
destruíram nossos edifícios
os nossos caçadores abateram os mais gordos
e em terra caíram como tordos
caindo nos pântanos, espalhando as lamas
estes pássaros de ferro
eram agora pássaros em chamas...


Mário Carreiro