sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O Império do Mal

"Cruza a terra do Atlante
(uma viagem deslumbrante)
E verás a Liberdade
Na sua grandiosidade"
Um famoso imperativo categórico
De um famoso discurso retórico

"O Sonho" dizem eles
O sonho de enriquecer às custas daqueles
Que com custo conseguem viver
E do «Sonho» não vêem sequer parecer

Quantos foram já os ingénuos
Que acolheste (prometendo tesouros eternos)
No teu berço, no teu ventre que banhaste
Com dólares para esconder os que enganaste?

Quantos escravos já tomaste
Convencendo que os ajudaste
Com um falso e hipócrita altruísmo?
Tudo para satisfazer o teu voraz consumismo

Quantas ogivas já deste à luz?
Daquelas que tudo a nada reduz
Quantas Gomorras e Sodomas?
Quantas Troias e quantas Romas?

Quantos Neros tu tiveste?
Quantos tiranos ao mundo deste?
Tiveste Nehru enquanto pudeste
E um Yeltsin lá no Leste

E quem se recusa a lamber o teu tacão
A sola do Império do Cifrão
É logo um comunista a combater,
Um terrorista a abater

Ó Pátria do Chacal!
Ó Puta gorda e sem pudor!
Quanto do teu suor

São lágrimas do Mal?


Mário Carreiro

sábado, 17 de outubro de 2009

A Sensualidade da Verdade

Mais um inútil dia passara
Que as peganhentas rédeas
Do ócio que o dia guiara
Me tomaram lascivas e enfermas

Ando como quem coxeia
Abstinente de qualquer emoção
Como quem se arrasta na areia
Eu me arrasto pelo chão

Sinto-me tão pálido e de alma corrompida
Sinto a minha pele a derreter
Suficientemente vivo para não ter vida
E suficientemente morto para não viver

E neste estado de debilidade
Sinto-me fora do mundo
Observando a humanidade
De um panorama profundo

E vejo-os nas humanas futilidades
Activos, moribundos e sociais
Pfff... meras ritualidades!
Que os faz achar que são mais do que animais
Na caótica guerra das sexualidades
Querem sempre mais, e mais, e mais...

Nem vêem a Sensualidade

Que há na pura Verdade...


Mário Carreiro

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

E ela viu-se grega...

Ia eu cruzando
Pela lateral da praça
Quando reparei em ti mirando
Através da vidraça

E então com ar de malandro
Pé ante pé fui andando
Da tua janela me acerco
E em teu olhar me perco

Abres a janela e pedes que me afaste
"Seu porco, estava limpa e já a sujaste!"
Olho-te então nesses olhos irados, quero-os!
Peço-te que mos dês e que me dês o teu Eros

"Maldito sejas que aqui poisas
Que é um Eros? Tenho lá dessas coisas"
Digo-te que era grego o que dissera
E tu disseste "só pudera..."

Senão o quente Eros, então um Ágape manso
"Tinha de me calhar um tanso...
Cala-te com tais palavrões
Que aqui não é asilo para cabrões"

Dá-me então o teu Pathos ardente
Que por ele sou um demente
E apoiando-me já no parapeito
Levei uma chapada que estava já a jeito

"Aviso-te, sai daqui seu louco!
Não me entravas em casa por pouco"
Na cara bate-me com a janela
E para castigo dos meus actos
Nunca mais a vi naquela ruela

Nem ela nem o meu Pathos


Mário Carreiro

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

No céu brilha uma estrela

No céu brilha uma estrela, ilusória
aos olhos de quem a vê, mentira
mas será que o seu brilho não seria apenas para esses olhos
para iluminar o caminho que não vêem,
para seguir em frente por entre a neblina?

Os pecados que cometemos,
ninguém os pode apagar, talvez
sejam mais profundos e negros do que imaginamos,
mas os erros, aprendemos a viver com eles
e ainda que a morte brinque com a mente
oferecendo uma saída fácil e definitiva
porque dizes que tudo o que és ou fazes
não passa de um mero nada?

Talvez essa estrela,
quisesse trazer-te uma mensagem,
dizer que ainda há esperança.
Olha para ti, para esses pequenos grãos a que chamas nada
e pensa, vê, sente
o que amas, o que está à tua volta,
os pequenos milagres desse nenhum
que podem fazer tanta diferença.

Não desistas da luta
As areias do tempo não param
e com elas trazem mudança,
deixa que a luz dessa estrela ilumine um pouco
a noite de brumas,
deixa que o teu coração fale e se faça ouvir bem alto

porque a canção do fim marca apenas o princípio…


Jean Stanford

Os pecados que cometemos

Os pecados que cometemos,
ninguém os pode apagar, talvez
sejam mais profundos e negros do que imaginamos,
mas os erros, aprendemos a viver com eles
e ainda que a morte brinque com a mente
oferecendo uma saída fácil e definitiva
algo instintivo, auto preservação
puxa-nos para trás, de facto ,egoistamente,
amamos a nossa vida acima de todas .

O ser humano é deveras imperfeito
Antropocêntrico, egocêntrico , egoísta
primeiro ele, depois os outros
e a inocência não é mais do que uma piada de tolos
no meio de tanto cinismo e ambição desmedida,
existem apenas aqueles que a escondem bem
longe da vista de todos,
para que a sociedade, lixo e escória do mundo
os ache diferentes e humanistas.

Fernando Pessoa tinha razão,
na temática do poema “ela canta, pobre ceifeira”
realmente pensar causa sofrimento,
a lógica que se ensina e nos move,
pois como seres imperfeitos
consideramos que sentir é fraqueza,
mas ambas, lógica e emoção
causam dor e decadência.

Sim, matamo-nos uns aos outros
Comemo-nos, consumimo-nos
Consumimos este mundo até não restar nada,
justificando acções com desculpas esfarrapadas e piedosas
de conforto, facilidade , amor
apelidadas de tecnologia, religião, e nomes difíceis
quando o que nos move é o lado negro, pútrido
decrépito, fedor da natureza humana.

Digo estas palavras, desvarios
Incluindo-me nelas sem procurar eufemismos ou perdão,
mas como humano acredito que podemos mudar,
crer em ideais românticos e sentimentalistas
nos produtos da imaginação, sonho da alma humana
ainda que tudo acima referido seja a verdade,
porque apenas lutando e tendo força
acreditando, podemos seguir em frente
de olhos postos num objectivo
ainda que tudo falhe, que se calem a vozes malfazejas,

é a eterna esperança e crença num futuro melhor.


Jean Stanford

sábado, 13 de junho de 2009

As três Moiras

Alto lá! Que aqui passais
Sem atentares nos demais

Quem vós sois?
E que quereis pois?

Somos as três Moiras
Castas, belas e loiras

Não questiono a castidade
Que é raro o desejo em vossa idade
Mas se algum dia vos houve beleza
Como vos vejo agora digo-vos que foi proeza
E do loiro cabelo entrançado
Vejo apenas um cinzento descuidado

Atentai antes no que vos diga
Pois já é grande a nossa fadiga
Corre pelas gentes o rumor
Que sereis cavaleiro de honor

Mas que cousa que por aí soa!
Confundis-me com outra pessoa
Sou apenas um peregrino galopante
Para suster o corcel mal tenho o bastante

Os rumores que oiço trá-los o vento
Dizem também que vosso será o real assento

Quem disse tal barbaridade?
Não acha decerto que seja verdade

Digo-lhe o que sei
E nada mais lhe direi
Juro-te por Deus
Que serão esses feitos teus
Primeiro te farão senhor
Dar-te-ão terras, honras e honor
Depois serás a sucessão
Do rei que tens agora a defensão
E serás um rei tão nobre
Que terás tudo o que o céu cobre
E o próprio céu será o teu sustento
Quando pela fama subires ao firmamento

Quem sois e como sabeis meu fado?
Acaso não sabeis que é pecado
Usar as artes de feitiçaria?
Atrevem-se a tamanha heresia?

Víeis que é verdade o que digo
Se não for, aceitamos o castigo
Ide agora! Podeis passar
Sei bem que quando aqui voltar
Já tereis o ouro e a coroa na cabeça

Se não, tereis nossas cabeças na travessa


Mário Carreiro

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Gilgamesh - Lamento a Aruru, A-da-criação

Ó Mãe Aruru
Tu que nos criaste
Com lama nos fizeste
E em sangue nos banhaste
Tu que nos deste a verdade
E dos demónios nos livraste
Tu que ergueste a nossa cidade
E os campos primeiro lavraste

Livra-nos agora deste mal
Pois não há outro igual
Livra-nos de Gilgamesh
Senhor de Uruk pelo direito real
Tudo o que faz faz por ganância
Toca os sinos por vaidade e arrogância
Tem a força de um touro
Sua pele dura como couro
Seus cabelos pretos como breu
Em Uruk não há ser tão belo como o seu
Tudo ganha na batalha e na cama
Não deixa uma só virgem
Para aquele que a ama
Nem a mulher do nobre
Nem a filha do guerreiro
Nunca há carne que lhe sobre
Livra-nos agora deste mal
Cria outro seu igual
À sua imagem e semelhança
E que entre os dois
Não haja a mínima concordância
Que batalhem e se aleijem
Que se odeiem e pelejem
E que haja paz para o povo de Uruk


Assim te rogamos ó Aruru, A-da-criação!


Mário Carreiro

domingo, 7 de junho de 2009

Guardian Angel

Fruto da tua imaginação
desci do brilhante céu
para que nunca pare teu coração
cuidarei dele como se fosse meu

Fazer-te sorrir
é para mim uma grande alegria
juntos a rir
para mim é um bom dia

Neste mundo tenho uma missão
para sempre te proteger
quer queiram quer não
nunca te deixarei sofrer

Tanto no melhor como no pior
quero do teu lado ficar
deste teu anjinho voador
um beijinho que te faz voar


Mário Ilhéu

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Olha e Pensa

Olha a terra, o mar e o céu
Olha todos como um só
Olha a terra que ao mar se ata
E os dois se atam com um nó
Olha o céu que os cobre
As nuvens que sobre eles descem
E todo o azul que sobre
Olha e pensa
Pensa naquilo que vês
E que podes não ver outra vez
E diz-me se não é verdade

Que há beleza na simplicidade


Mário Carreiro

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O frade

Passava eu na estrada de terra
Errando como quem na vida erra
Quando por artes de feiticeiro
Surgiu um frade detrás de um pinheiro
Segurando a rama de uma pereira
Cercou-me pela traseira
E com ares de santo sonso
Estridente gritou o frade mariconso:
"Domine, domine, quem est homine?"
Caro frei Joaquim
Olhe bem para mim
Acha que sei seu latim?
"Meum latinis mui facilis est"
Raios o partam sua peste!
"Oh domine, blasfemus liguarudus!"
Interessantes esses seus estudos
Arreliar o pobre andante
Que andar a pé já não o é bastante
"Pobretiam et ingratiam!"
Chega! Basta-me!
"Non levantatis vox
Per representatis divinus!
"
Para um bando de frades ladinos?!
Levanto pois a minha vox
Seja lá o que isso for
"Homine sine honor..."
Vá embora frei Joaquim
Não vá aqui perder o seu latim
"Malditis pobretiam
Hasta, me voy, me voy!
"
E assim o frade foi
Pegando no cajado
Enrolando o rol
No final até já falava espanhol
Continuei pela via incerta
Que quanto mais alarga

Mais me aperta...


Mário Carreiro

domingo, 15 de março de 2009

Força

Ó Força que és tanta
Que empurra, puxa
Baixa e levanta
Este mundo e as vontades
Que quebras em pedaços
As suas contrariedades
Que te espalhas pelos campos
Por quantos mundos vês
E por outros mundos tantos

Tenho-te a ti em mim!

Ó Força que me asseguras
Não ser por uns palmos de terra
Que o meu amor se enterra
Nem que pela areia da ampulheta
Faça nele haver ruína
Marcada pela tua silhueta

Tu és em mim!

Ó Força das minhas amarguras
Motor da Crónica Natural
Haverá em quem te projecto
Uma Força assim igual?
E se houver diz-me sobre Ela
De quem é a sua combustão
E se é Ágape de mastro e vela
Ou Eros de propulsão

Que será de mim

Se não for em ti?


Mário Carreiro

quinta-feira, 5 de março de 2009

Kal Kalborah

Ali vai Kal Kalborah
o deus-serpente
que em seu luzidio
batel vai diligente
rasgando o céu
e a galáxia em seu redor
corpo de cobra
e cabeça de condor
e condor é de certeza
pois com dor e tristeza
o olha quem o vê
e como quem prevê
pelo sinal de um eclipse
o fim, o julgo, o Apocalipse
o fim
porque enfim
tudo o que principia
findará também um dia
o julgo
que no momento final
será dada a sentença monumental
que fora já prevista
no episodeo primordial
e o Apocalipse
tal como na elipse
que no principio tem começo
e no começo tem o final
que do nada criou tudo
e tudo leva a nada

Viva os benditos!
viva os punidos!
viva o inferno que reina!
viva o paraiso que não há!
viva o grande Kal Kalborah!


Mário Carreiro

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Parabéns para o Clube do Gato Bebado


Hoje, dia 26 de Fevereiro de 2009, comemora-se o primeiro aniversário do Clube do Gato Bebado. O clube foi fundado mais ou menos ao fim da tarde do dia 26-02-2008 por mim e seguidamente se juntou o Sandro. No dia seguinte juntou-se Mário Ilhéu e mais três membros. A partir de então o Clube foi crescendo até antigir os 24 membros embora de momento sejamos 23. Espero que mais gente com vontade de integrar o Clube se junte levando assim esta organização a uma maior glória e progresso. E VIVA O CLUBE DO GATO BEBADO!!!!!!!!!


Em nome do Clube do Gato Bebado e da sua administração,

Mário Carreiro

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Luz do meu coração

Sempre que olho para o céu
procuro pelo mesmo
revestida por um escuro véu
mas sem meio termo.

Aquela luz lá no alto
uma linda estrela a cintilar
vista do belo planalto
até ao glorioso mar

Mal olhei para ti
já sabia o que sentir
mal te viras para mim
e começas a sorrir

Por mais que tente saltar
não te consigo agarrar;
Mesmo sem poder te alcançar
minha vida é para te amar

Linda como uma estrela
sua beleza faz vibrar
nem o escuro pode detê-la
sendo tu linda como uma estrela

Estrela esta que me faz tremer
até pára meu coração
Amo-te, desde cá do fundo
desde o rim ate ao pulmões
do tamanho do mundo,
e sempre cheio de emoções


Mário Ilhéu

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Confissões de um apaixonado

Confesso...
basta um beijo teu
e falta-me o chão
só meus pés
num galope se dispara meu coração

O mundo gira sem cessar
falta-me o ar
para poder respirar

Surge o Sol,
em noite estrelada
sinto mil sinos tocar
e vejo a lua a brilhar

O mundo ganha vibrantes e novas cores
sinto-me a falecer de norte a sul
mas basta um beijo teu
para feliz poder ser


Mário Ilhéu

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Amar e gostar

Não mais sei que diga
Nem sei mais que faça
Que quem julgavas por amiga
O coração te desfaça

Por causas menores enfim
De infinita insignificância
Termina tudo assim
Por algo de pouca importância

Estás tu agora nesse estado
Desistente e parado
Culpando quem não é culpado
Oh que mundo desordenado!

Em que o justo é acusado
De cometer o pecado
Que outro pecador mal ordenado
Pecou sem ser condenado

O que levará o humano engenho
A demonstrar tanto empenho?
Que depois por pouco ou por nada
Fica-lhe a vida estragada

Pergunto então a quem saiba responder
Se tanto esforço é de valer
Se num instante acabamos de perder
O que tanto tempo lutámos para ter

Peço que quem diga amar pondere
E antes de dizer que ama espere
E se maldade não tiver no coração
Em vez do falso sim, dirá o certo não

Mas quem pensou e sabe que ama
Cuide que o amor é uma chama
Que por se apagar tanto teima
Que quando não se apaga tudo queima


Mário Carreiro

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A minha Afrodite

A minha Afrodite
Que o meu coração assim fite
E que naquele momento de intimidade
Ouvindo os meus suspiros de felicidade
E calma como a nocturna soturnidade
Me passas a mão pelo rosto
E fazes de meu ombro teu encosto
E voltas a pôr a tua mão na minha cara
Aquela que de teus beijos muitos levara
E rápida mas calmamente
Me beijas de repente
E meu corpo sentindo o que a minha alma sente
Te beijo também os lábios
Pensando aqueles pensamentos sábios
Que melhor que ter-te por perto
É ter por ti um sentimento concreto
Sem dúvida nem incerteza
O meu amor é vero e de certeza
Que erro, pois disto faz parte
Assim no amor como em qualquer arte
Como o padeiro que o pão torra,

O escritor que se engana e o pintor que borra


Mário Carreiro

sábado, 24 de janeiro de 2009

Lilith

Lá para as bandas infernais
Estava Lilith a chorar
Por aquele que ela ama
Sua escrava a tomar

"Sinto agora a minha artéria
Sei bem que ainda estou viva
Fui feita da mesma matéria
Porque me quer ele como cativa?
Fui criada da mesma forma
Porque sua escrava ele me torna?
Não mais me rebaixo
Até no milagre tenho de estar por baixo"

E tornando-se a rogar
Para aquele que a criou
A sua condição reclamou

"Tu, que me fizeste do pó
Dando-me a bênção maternal
E que criaste também a ele
De forma e matéria igual
Deixa-me ser livre mas também amada
Sem que seja por ele subjugada"

Ao que o criador replicou
E um tom de ira entoou

"O que fiz não está bem nem mal
Pois é esta a ordem natural
E quem és tu para exigir?
Não passas de uma mera mortal
Tenho então de te punir
Por desafiares teu superior
E por quereres ser igual
Aquele de quem és inferior
Condeno-te então
À eterna danação!"

E assim falou o criador
Condenando ela ao eterno horror
Ela fora castigada
A estar sempre aprisionada
Pois recusou servir
Aqueles que vivem lá em cima
Servirá agora então

Aos que reinam debaixo do chão...


Mário Carreiro

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Filho do Sol - Akhenaten

Noutro século
De outro milénio
Os já passados
E muito esquecidos
Antigos dias de Khem
Um rei contemplava Helio
Que toda a terra ilumina
E nela cria vida

Helio brilha sobre Amon
Que tudo criou a seus pés
E no mar fez nascer terra
E na terra fez nascer vida

Contemplava o rei também
Osíris, Ísis nossa madre
E o sábio Toth

Mas os deuses danaram-se
O rei incorreu em sua ira
Pois julgando-se ele um deus
Deixou-se cair em perdição
E fez da sua imagem o Sol
E do seu olhar raios de luz
Seus artífices criaram anéis
Pulseiras, jóias, colares
E até máscaras
Tudo em ouro
Para brilhar como Helio
Era então o rei um falso Sol

Julgou-se o rei um deus
Maior de todos os deuses
E também o único de entre eles
E assim libertou a fúria de Horus

Filho do Sol -
Akhenaten -
Era esse seu nome
Filho do sol
O sol queimou suas asas

Toda a terra se desfaz
E todo o povo morre
Enquanto o rei se julga maior
A Esfinge derrete em lágrimas
As pirâmides tremem
Ao som das infernais bombardas
Já o abismo está próximo
Quando o rei se arrepende
Já foi tarde...

Visões insanas
Levam o rei à loucura
A sua maldição
Foi a praga do Homem
O rei-deus fora derrotado

Um novo mundo nascerá...
Um novo mundo virá...



Mário Carreiro

sábado, 17 de janeiro de 2009

Deslembranças

Ah, como lembrar
Das nossas memórias lavadas,
Aquelas com que acordava
Mas que eram sempre apagadas.

Lembro-me dessas deslembranças
Como se existissem na realidade,
E a mentira tivesse um tom de verdade,
Como se delas, tivesse saudade.

Um livro que de nada, tudo tinha.
Uma página, que depois de virada,
Num rasgo, fosse apagada
E de branco lavada.

Memórias minhas,
Vivências lembradas,
Que no passado,

Não passavam de nada…


Sandro Pereira

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O meu Inferno

Um véu branco
Que sobre mim cai
E dentro do qual me tranco

Em redor apenas vejo chamas
Que consomem meu corpo
E queimam minhas entranhas

E no culminar da minha sanidade
Até perco a lógica
Em troca de saber a verdade

E dá-me então uma vontade
Uma vontade de amar
De amar sem piedade

Já não sinto alegria
Nem sinto tristeza
Sinto apenas uma euforia

Que me toma assim
E me possui a mim
Que me faz perder a razão
E todo sentimento
Que resta no meu coração

Tornando-me num mecanismo
De puro masoquismo
De pura dor, de puro sofrer
Por tanto desejar

Aquilo que tanto queria ter…


Mário Carreiro