quarta-feira, 2 de setembro de 2009

E ela viu-se grega...

Ia eu cruzando
Pela lateral da praça
Quando reparei em ti mirando
Através da vidraça

E então com ar de malandro
Pé ante pé fui andando
Da tua janela me acerco
E em teu olhar me perco

Abres a janela e pedes que me afaste
"Seu porco, estava limpa e já a sujaste!"
Olho-te então nesses olhos irados, quero-os!
Peço-te que mos dês e que me dês o teu Eros

"Maldito sejas que aqui poisas
Que é um Eros? Tenho lá dessas coisas"
Digo-te que era grego o que dissera
E tu disseste "só pudera..."

Senão o quente Eros, então um Ágape manso
"Tinha de me calhar um tanso...
Cala-te com tais palavrões
Que aqui não é asilo para cabrões"

Dá-me então o teu Pathos ardente
Que por ele sou um demente
E apoiando-me já no parapeito
Levei uma chapada que estava já a jeito

"Aviso-te, sai daqui seu louco!
Não me entravas em casa por pouco"
Na cara bate-me com a janela
E para castigo dos meus actos
Nunca mais a vi naquela ruela

Nem ela nem o meu Pathos


Mário Carreiro