Houve em tempos alguém
Alto de cabelo escuro
Chamado Gracco, um homem
Que seguia Epicúro
Diziam uns que tinha matado o irmão
Escorraçavam-no e chamavam-lhe cão
Mas Gracco sabia bem que jamais
Mataria homens ou animais
Era expulso de cada cidade
Espancavam, maltratavam
E ele sempre com a mesma serenidade
Aceitava os castigos que lhe davam
Quando, por vezes, o encarceravam
E ao ritmo dum chicote o interrogavam
"Quem és? donde vens? porque és tão imundo?"
E Gracco respondia "sou Gracco e minha casa é o mundo"
E apesar dos castigos imensos
De ser açoitado nas ágoras
De ser lançado nos bosques densos
Gracco era um homem sem mágoas
Nunca se tinha apaixonado
Nunca a prazeres se tinha dado
Rejeitara todas as humanas paixões
E nunca mostrava emoções
Pelas cidades onde passava
Dormia nas praças e mercados
Do nascer ao pôr-do-sol ensinava
A sua filosofia aos mais desocupados
Um menino sentou-se aos seus pés
E perguntou "tu quem és?"
E Gracco respondeu sereno e profundo
"Sou o homem mais rico do mundo"
E o pequeno menino disse
"Rico é o Rei de Roma
Rico de verdade que eu visse
Que para si toda a riqueza toma"
E Gracco respondeu com firmeza
"A sabedoria é a maior riqueza
O Rei só vive num palácio dourado
Mas olha para mim! Posso viver em qualquer lado!"
Ao que o pequeno concluiu
"Então ser rico é saber"
E na sua mente diluiu
O que acabara de aprender
"O ouro? podem-te roubar
As terras? podem-te conquistar
Mas a sabedoria jamais te vão tirar"
E olhando para o menino, Gracco diz
"Eu sei e sou feliz"
Mário Carreiro
4 comentários:
Parabéns pelo post! Sem dúvida alguma que a sabedoria é uma das maiores riquezas do ser humano!
venerei mesmo, muito bom ! :D
mai' nada! Excelente!
Ficou um poema bastante completo a nível de fonética sem rimas forçadas que, pelo contrário, saíram bastante bem e com uma naturalidade característica de um grande poema. O conteúdo também ficou muito rico e com uma linha condutora a todo o poema embora se possa considerar que existem "falhas" no início do poema que até ficam bastante interessantes: "apontando para uma espécie de prosa ritmada", em que mais do que um poema há uma história lógica dentro dele. Outra falha surge no final e essa não tem desculpa porque é o que dá ímpeto ao poema e que acaba por matar a magnífica construção que está atrás e que espero que melhore mais daqui para a frente. Só mesmo esperar que haja um final menos prosaico(e digo isto como um poema soberbo) e com uma forte rima. Não vou opinar mais porque isto é apenas uma observação.
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