quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A Ceifeira

Em sonhos eu vi
em visões ela veio
e eu vi-a
vi toda a sua beleza
uma beleza tenebrosa
que me faz sentir mórbido
de apenas achas belo
tão temido ser


Ahh... a sua lúcida pele...
branca como os nevões
trazendo á memória
as nórdicas colinas
no pico do inverno
uma pele tão suave
mas tão fria e seca


Ahh... então e seus lábios...
húmidos e carnudos
escorrendo ainda fios de sangue
recordações do seu ultimo amor
e tão negros eram seus lábios...
tão negros que neles fixaram
de instante o meu olhar
como que sugando a minha visão


Pergunta-me então pelos seus olhos
e sobre eles digo sem hesitar
que nunca na vida
vi tão belo olhar
um olhar frio
inexpressivo e vazio
um olhar tenebroso
que me faz tremer
mas um olhar belo
que me faz amar


E sua silhueta
elegante e extasiante
suas fecundas curvas
de que Vénus se inveja


E por onde passa
o espaço e o tempo dilata
esta Dama não tem residência
tem seu ardente carro
pois está sempre em movimento
porque há sempre vidas
para serem tomadas como seu alimento


Vem a mim que a vida é incerta
traz teu luto, tua roupa funesta
traz também a tua foice
e de um golpe certeiro, ceifa minha vida
como a ceifeira que ceifa o trigo


Mário Carreiro

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